A opinião que emitirei tende a não representar fielmente a realidade por que vivo longe dos ocorridos, mas ainda assim acho que é valida.
Vendo o filme Tropa de Elite que, espero, seja um retrato válido da realidade da segurança pública carioca, fiquei pensando, não é possível que as drogas causem tanto estrago e tantas mortes quanto a guerra contra o tráfico. Acho que ações do BOPE encenadas no filme são uma solução que custa mais caro do que os benefícios proporcionados.
O argumento é que as drogas não são o principal problemas, mas sim as armas que são financiadas com o $$ do tráfico. Pois bem, contra-argumento que os traficantes precisam de armas por que a polícia, que é paga para impedir o tráfico, usa armas e então é preciso se armar para assegurar o negócio. No filme Cidade de Deus, uma colocação de Dadinho (ele ainda não era o Zé Pequeno) para o Bené indica que roubos, assaltos e outros crimes não geram tanto dinheiro quanto o tráfico de drogas. Justamente nessa hora que eles decidem que tomarão as bocas dos traficantes e, num ritual, Dadinho ganha o nome de Zé Pequeno.
Voltando ao tema segurança pública, me ocorre que a violência empregada pela polícia gerou a violência usada pelos traficantes e que esse círculo vicioso já foi muito longe e está cada vez mais difícil de ele ser interrompido. O que sobra disso? É que o problema não são as drogas, mas sim as armas. E, repetindo a introdução deste pensamento, não creio que as drogas fazem tão mal à sociedade quanto a guerra.
As operações policiais acabam por executar sentenças que não foram proferidas por nenhum tribunal. Muitas operações terminam com mais mortos do que armas apreendidas. As pessoas que são mortas podem até ter cometido crimes, mas não foram julgadas e nenhuma prova contra elas foi ou será apresentada à sociedade. E é justamente isso que um relator da ONU (Philip Alston – da Austrália) escreveu em seu relatório sobre a Segurança Pública do Rio. O relatório critica severamente essas ações dizendo que elas têm um caráter populista, ou seja, servem apenas para agradar as pessoas de classe média e alta que gostariam de ver resultados rápidos, mas que no fim são contraproducentes, ou seja, não produzem o efeito desejado que é o fim da violência e, ao contrário, geram uma insegurança ainda maior.
Ontem o sr José Mariano Beltrame, secretário de segurança do estado do Rio, criticou o relatório dizendo que ele é míope e deslocado da realidade carioca. O argumento utilizado por ele é que um australiano que passou 4 dias no Rio e que, dessa forma, não tem o direito de opinar.
Isso mostra o despreparo da segurança pública carioca. O secretário, ao invés de acrescentar informações que provem o contrário, ataca gratuitamente o relator que, passou apenas 4 dias no rio, mas tem todos os relatórios, com todos números de todas as operações, algo que, provavelmente, esse sr Beltrame nunca se prestou a ler. Ao invés de usar o relatório para melhorar a segurança, ele lê o resumo deste no jornal, critica o relator e argumenta que ele é australiano e no Rio mando eu. Tudo indica que vai continuar como está... Infelizmente.
3 de jun. de 2008
Segurança Pública
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