17 de jun. de 2008

Só se colhe o que se planta.

É incrível como a situação dos moleques entregues à gangues no Rio era previsível. O que me intriga é a velocidade com o qual o pessoal do exército foi corrompido. Quero dizer, ao que me parece, essa força de segurança ‘emprestada’ pelo exército ao estado e à cidade do Rio de Janeiro. Se bem me lembro, essa força composta pelo exército brasileiro, chegou de Brasília pouco antes do Pan do Rio. Chegou e ficou. A classe média ficou feliz e se sentindo mais segura com a presença do exército nas ruas. O Pan acabou e o pessoal dos governos cariocas logo trataram de barganhar a permanência da tchurma por lá.

Beleza, de começo, todos os lados (exceto o do governo do Rio) foram contra o exército policiando as ruas. Isso não é tarefa do exército. Eles não são treinados para isso. Eles são treinados para matar inimigos. Estão acostumados a lidar com conflitos declarados e não com a criminalidade oculta nos guetos das grandes cidades. Mas a conhecida incompetência da segurança pública carioca não permitiria ao governo federal deixar os gringos que vieram por causa do Pan à própria sorte.

Pois bem, que venha o exército, mas não o carioca, veio o de Brasília. Por razões mais do que óbvias. Todas as quadrilhas dos morros cariocas são abastecidas de armas e treinadas por integrantes e ex integrantes do exército brasileiro que atuam no Rio. Pegue um “Proibidão” para ouvir (são aqueles funks de bandido) e tente entender uma letra. Muitas citam o tal do P.Q.D., que é a gíria para paraquedista. Os paraquedistas são parte da elite do exército brasileiro, e a sede dos pqds é o Rio. Enfim, não dá pra deixar esses caras fazendo a segurança, já que eles contribuem diretamente para a insegurança pública.

Então vieram os de Brasília e, depois do Pan, movimentações políticas obscuras mantiveram o exército nas ruas do Rio. Por um tempo eles chegaram a sair, mas rapidamente voltaram. Sua principal missão hoje em dia é dar segurança para a realização das obras do PAC, que prevê uma intervenção urbanística nas favelas cariocas.

Pois bem, membros dessa inútil corporação (inútil por que, tirando agora as ações nas ruas cariocas e raras exceções de ações nas fronteiras do RS e da Amazônia, eles só fazem treinamentos, pagos como seu dinheiro. Caso um dia o Brasil se meta numa guerra sua existência será justificada), nem um ano depois de convocados para dar segurança ao Rio, já promovem a insegurança. Supondo que nenhum deles conhecia o esquema, uma vez que vieram de Brasília, os traficantes conseguiram corrompe-los em menos de um ano. Agora, sendo sincero, analisando o histórico da relação entre militares e o poder paralelo do crime, dava para prever que isso ocorreria mais dia menos dia. Eu só não esperava que seria tão rápido. Provavelmente algum menino pobre do Rio que entrou para o exército e foi remanejado para Brasília voltou agora e encontrou antigas amizades que lhe ofereceram a “oportunidade da sua vida” para ficar rico e poder, finalmente, cumprir a sua vocação de não fazer nada da vida. Senão por que motivo este cidadão entraria para o exército, se não para fazer nada.
Pois bem, esse episódio é bom para esfregar na cara das incompetentes autoridades cariocas que o trabalho é para ser feito no longo prazo (e isso vale para a saúde também, ainda não me esqueci do surto de dengue apesar da imprensa parecer ter esquecido). Para demonstrar da pior maneira que não há saídas fáceis para problemas complexos. O problema, e isso vale para qualquer governante em qualquer lugar do país, é que eles são eleitos e vestem a faixa de candidatos à reeleição. Suas principais preocupações são 1º promover políticas populistas; 2º desviar verbas para sua próxima campanha; 3º tomar medidas que maquiem os problemas até que ele seja reeleito ou se eleja o seu sucessor. Taí, a medida fácil piorou a situação. Como diria minha avó, quem semeia vento, colhe tempestade.

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