Há algum tempo atrás (umas duas semanas, imagino) pessoas começaram a perder seus túmulos em Brasília. A administradora dos cemitérios começou enviando cartas para a casa das pessoas que estavam enterradas dizendo que precisava renovar o contrato (leia-se pagar alguma taxa) e, como não obtiveram respostas (claro, as pessoas estavam mortas e no cemitério, não em casa) simplesmente retiraram os restos mortais das covas e venderam o espaço para outrem.
Pois bem. Pouco tempo depois, pessoas que estavam com tudo pago em dia, inclusive proprietários perpétuos de lápides, começaram a perder seus túmulos sem justificativa. Já imaginou, você chega para deixar flores para um ente querido e na lápide tem o nome de outra pessoa? Um horror, tremendo desrespeito. Ah, para constar, a administração dos cemitérios de Brasília é pública.
Agora é que vem a parte boa da história. Nesta semana os nossos digníssimos deputados federais criaram um projeto de lei que visa fornecer um auxílio de 17.000,00 reais para enterros de deputados, ex-deputados e futuros-ex-deputados que morrerem. Ou seja, um cara que foi deputado morre, a família recebe 17 paus para enterra-lo. Um atual deputado morre, idem. Um atual deputado morre daqui a dez anos não sendo mais deputado, também recebe.
Um jornal televisivo apurou que um enterro em Brasília com caixão, flores, limpeza do defunto, transporte em carro fúnebre e tudo que se tem direito custa entre 1.500 e 7.000 reais. Estranho.
Agora, refletindo. De um lado tem uma família que, somando os rendimentos, fatura 3 mil reais por mês paga uma grana pra administração do cemitério para manter a lápide e, quando alguém morre desembolsa mais, no mínimo, 1500 reais para o enterro chega para visitar o seu ente querido e acha outro morto em sua cova.
Um sacana que todo ano aumenta o seu próprio salário que atualmente é de 60 mil reais por mês (contando os benefícios), que nunca vai ter sua cova mexida por ninguém, que não está nem aí para as mexidas com covas dos outros, quando morrer vai receber 17 paus para o enterro. Ainda se o dinheiro fosse gasto para esquartejar o cidadão, contratar um show do Zezé e Luciano e um show pirotécnico para as comemorações do ‘já vai tarde’, vá lá.Ou então podia pegar este dinheiro e construir uma catapulta e ficar brincando de atirar o desgraçado contra o palácio dos poderes. Ia ser ainda mais legal. Mas o dinheiro será usado para comprar um caixão com alças de marfim, tampa de ouro e para se fazer um busto do infeliz no cemitério.
O que me impressiona é a cara de pau do cidadão que nem esperou o escândalo do cemitério apagar, e já emendou em uma nova farra. Chega a ser engraçado. O cara que propôs é um fanfarrão. E o mais legal é o Chinaglia (presidente da câmara) que apoiou o projeto e, quando interrogado pelo repórter se ele tinha certeza que era justo, respondeu: Me parece justo, mas eu não li o projeto. HAHAHAHA, não leu??? Claro que não leu. Nunca leu nenhum em sua vida de parlamentar. Apenas se agradou com a idéia de ganhar 17 paus quando morrer. “Opa dinheiro pra mim. Até morto eu quero”.
Momento da teoria da conspiração: Em tempos de desvios do BNDES vindo à tona, não me espantaria que o cara que propôs a lei fúnebre esteja envolvido também com o BNDES e teve essa idéia sublime num momento propício para tirar o foco da imprensa deste caso e se preocupar com os 17 paus pro morto. Eu sou a favor de outra lei. Pra cada deputado que alguém matar, o matador ganha um busto e o deputado é enterrado com dezessete paus na bunda. Esse sim agradaria à população.
8 de mai. de 2008
A farra dos mortos
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Ocorre que culturalmente, entre os deputados, existe a tradição de doar 1 dia de salário para o colega falecido. Somando tudo (um dia de cada deputado), chegava-se em mais de 200 mil reais para a viúva. Então eles pensaram, por que a gente vai dar toda essa grana do nosso bolso pra viuva se podemos dar bem menos e dar do dinheiro do contribuinte? Sempre o bolso deles...
Eu sou a favor de que os 17 paus fosse para emalguma escola ou hospital. Pra que enterrar com o deputado, ne que seja na bunda dele, é melhor investir em educação.
Postar um comentário